Estamos vivendo a tão esperada Copa das Copas – Brasil 2014

jun 13, 2014 | por Heitor Bergamini | Artigos

DIA 12 DE JUNHO UM POUCO ANTES DO INÍCIO DO JOGO DO BRASIL PAREI PARA FAZER UMA REFLEXÃO: POR QUE A MAIS ESPERADA COPA DO MUNDO DE TODOS OS TEMPOS TEVE TANTOS PROBLEMAS DE ORGANIZAÇÃO?

Tivemos 7 anos para nos prepararmos, gastamos mais que qualquer outro país para construir os estádios, boa parte das obras prometidas não ficou pronta em tempo e outra nem sequer iniciou. Sem falar no trem-bala.

Acabei então me lembrando de um fato triste que ocorreu neste ano, a morte de Nilton Santos, também conhecido como o “Enciclopédia do Futebol”.

Nilton Santos jogou profissionalmente por um único clube de futebol, o Botafogo do Rio de Janeiro (A estrela solitária), conquistou 26 títulos, participou de 729 jogos e marcou 11 gols. Na seleção brasileira jogou 75 partidas e marcou cinco gols. Foi reserva na Copa de 1950 e titular nos Mundiais de 54, 58 e 62 fazendo, portanto, parte da conquista do bicampeonato mundial de 1958 e 1962.

Nilton Santos foi, sem sombra de dúvida, um dos grandes jogadores do futebol mundial. Tanto que a Fifa o elegeu o melhor lateral-esquerdo de todos os tempos.

Porém foi na copa de 1962, no Chile, jogando contra a seleção espanhola, que Nilton Santos protagonizou um dos lances mais conhecidos do futebol brasileiro. Nilton Santos derrubou o atacante espanhol dentro da grande área e o juiz apitou a falta. O Enciclopédia rapidamente deu dois passos para a frente até a linha da grande área e ali ficou parado com os braços levantados. O juiz, que estava um pouco afastado do lance, marcou a falta fora da grande área.

Assista ao lance abaixo:

Vejamos também a descrição do lance feita pelo próprio jogador tirada do site Gazeta Esportiva:

“Começamos mal e tomamos um gol no primeiro tempo. O técnico espanhol colocara um cara novo e veloz em cima de mim, mas ele era canhoto. Ele ganhava todas as corridas, mas na hora de cruzar, tinha que ajeitar a bola para a perna boa. Nessa hora, eu chegava e roubava a bola. No segundo tempo, a mesma jogada se repetiu, mas, na hora de cortar a bola, acabei derrubando o espanhol dentro da área. Instintivamente, dei dois passos e saí da área. O árbitro estava longe, não viu e marcou falta e não pênalti. Foi pura malandragem, daquelas que a gente aprende nas peladas.”

Durante toda aquela semana após a morte de Nilton Santos, assistimos a várias emissoras, programas esportivos, comentaristas e também aos próprios colegas de profissão destacando justamente este lance infame do jogador ao invés de dar ênfase às suas jogadas geniais e memoráveis, às conquistas e aos momentos de alegria que ele proporcionou ao povo e ao esporte brasileiro. Nota-se que, inclusive no vídeo acima, o narrador atual usa a palavra “esperto” para descrever o lance.

Até quando este país vai cultuar o mal feito e o errado? Até quando vamos achar que enganar os outros e levar vantagem é a mais “pura malandragem brasileira”?

O paradigma brasileiro nos faz enxergar que as pessoas que tiram vantagem de forma ilícita sem serem flagradas devem ser consideradas “espertas”. E assim, enganar o juiz é parte do jogo!

Quando, na verdade, fazer com que um juiz profissional seja ridicularizado, taxado de incompetente e passasse a ser motivo de riso e chacota deveria ser inaceitável.

Este tipo de exemplo ou de atitude ultrapassa as barreiras do esporte e contamina toda a sociedade. Os nossos meios de comunicação realçam e dão destaque a estas atitudes ou “artimanhas” como se elas fossem divertidas ou normais. Que podem fazer parte da competição ou do nosso dia a dia. Mostram para as nossas crianças que ser “esperto” pode ser correto desde que isso traga algum tipo de ganho, vantagem ou benefício, e esquecem que estas crianças serão os nossos futuros trabalhadores, profissionais liberais, executivos, empresários e políticos.

Hoje assistimos a todo o tipo de “bandalheira” sendo praticada de sul a norte do país. Em todas as classes profissionais, incluindo juízes e magistrados, corruptos ou corruptores, enganando ou sendo enganados. Todos querendo exercer a “pura malandragem brasileira”.

Este tipo de “lance” ou de atitude deve ser banido do nosso dia a dia e, se em algum momento fosse lembrado, deveria ser para servir de exemplo de atitude incorreta.

Porque enganar os outros, prometer e não cumprir, mentir ou roubar não pode fazer parte do jogo.

http://www.niltonsantos.com.br

http://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%ADlton_Santos

  • Edson Zafanelli

    Heitor, você foi muito feliz com essa publicação, infelizmente, tenho que concordar com tudo o que foi escrito, infelizmente, o povo brasileiro acha que ser “esperto” é o correto, porém o correto não pode ser confundido com esperteza. Outro dia, eu vi um vídeo sobre um jogo de futebol, Ajax e outro time que não me recordo agora, mas, foi sensacional a atitude dos jogadores do Ajax, infelizmente, seguindo o raciocínio de sua postagem, também temos exemplos de “esperteza”, como os Call Centers que atendem às empresas de telefonia, que, para aumentarem seus lucros, não querem resolver os problemas dos clientes e sim, fazer com que eles liguem mais e mais vezes, pois, não recebem por “homem Hora”, e sim por chamadas recebidas, foi só um paralelo que resolvi deixar aqui, na deixa de sua publicação !!