DIA 12 DE JUNHO UM POUCO ANTES DO INÍCIO DO JOGO DO BRASIL PAREI PARA FAZER UMA REFLEXÃO: POR QUE A MAIS ESPERADA COPA DO MUNDO DE TODOS OS TEMPOS TEVE TANTOS PROBLEMAS DE ORGANIZAÇÃO?
Tivemos 7 anos para nos prepararmos, gastamos mais que qualquer outro país para construir os estádios, boa parte das obras prometidas não ficou pronta em tempo e outra nem sequer iniciou. Sem falar no trem-bala.
Acabei então me lembrando de um fato triste que ocorreu neste ano, a morte de Nilton Santos, também conhecido como o “Enciclopédia do Futebol”.
Nilton Santos jogou profissionalmente por um único clube de futebol, o Botafogo do Rio de Janeiro (A estrela solitária), conquistou 26 títulos, participou de 729 jogos e marcou 11 gols. Na seleção brasileira jogou 75 partidas e marcou cinco gols. Foi reserva na Copa de 1950 e titular nos Mundiais de 54, 58 e 62 fazendo, portanto, parte da conquista do bicampeonato mundial de 1958 e 1962.
Nilton Santos foi, sem sombra de dúvida, um dos grandes jogadores do futebol mundial. Tanto que a Fifa o elegeu o melhor lateral-esquerdo de todos os tempos.
Porém foi na copa de 1962, no Chile, jogando contra a seleção espanhola, que Nilton Santos protagonizou um dos lances mais conhecidos do futebol brasileiro. Nilton Santos derrubou o atacante espanhol dentro da grande área e o juiz apitou a falta. O Enciclopédia rapidamente deu dois passos para a frente até a linha da grande área e ali ficou parado com os braços levantados. O juiz, que estava um pouco afastado do lance, marcou a falta fora da grande área.
Assista ao lance abaixo:
Vejamos também a descrição do lance feita pelo próprio jogador tirada do site Gazeta Esportiva:
“Começamos mal e tomamos um gol no primeiro tempo. O técnico espanhol colocara um cara novo e veloz em cima de mim, mas ele era canhoto. Ele ganhava todas as corridas, mas na hora de cruzar, tinha que ajeitar a bola para a perna boa. Nessa hora, eu chegava e roubava a bola. No segundo tempo, a mesma jogada se repetiu, mas, na hora de cortar a bola, acabei derrubando o espanhol dentro da área. Instintivamente, dei dois passos e saí da área. O árbitro estava longe, não viu e marcou falta e não pênalti. Foi pura malandragem, daquelas que a gente aprende nas peladas.”
Durante toda aquela semana após a morte de Nilton Santos, assistimos a várias emissoras, programas esportivos, comentaristas e também aos próprios colegas de profissão destacando justamente este lance infame do jogador ao invés de dar ênfase às suas jogadas geniais e memoráveis, às conquistas e aos momentos de alegria que ele proporcionou ao povo e ao esporte brasileiro. Nota-se que, inclusive no vídeo acima, o narrador atual usa a palavra “esperto” para descrever o lance.
Até quando este país vai cultuar o mal feito e o errado? Até quando vamos achar que enganar os outros e levar vantagem é a mais “pura malandragem brasileira”?O paradigma brasileiro nos faz enxergar que as pessoas que tiram vantagem de forma ilícita sem serem flagradas devem ser consideradas “espertas”. E assim, enganar o juiz é parte do jogo!
Quando, na verdade, fazer com que um juiz profissional seja ridicularizado, taxado de incompetente e passasse a ser motivo de riso e chacota deveria ser inaceitável.
Este tipo de exemplo ou de atitude ultrapassa as barreiras do esporte e contamina toda a sociedade. Os nossos meios de comunicação realçam e dão destaque a estas atitudes ou “artimanhas” como se elas fossem divertidas ou normais. Que podem fazer parte da competição ou do nosso dia a dia. Mostram para as nossas crianças que ser “esperto” pode ser correto desde que isso traga algum tipo de ganho, vantagem ou benefício, e esquecem que estas crianças serão os nossos futuros trabalhadores, profissionais liberais, executivos, empresários e políticos.
Hoje assistimos a todo o tipo de “bandalheira” sendo praticada de sul a norte do país. Em todas as classes profissionais, incluindo juízes e magistrados, corruptos ou corruptores, enganando ou sendo enganados. Todos querendo exercer a “pura malandragem brasileira”.
Este tipo de “lance” ou de atitude deve ser banido do nosso dia a dia e, se em algum momento fosse lembrado, deveria ser para servir de exemplo de atitude incorreta.
Porque enganar os outros, prometer e não cumprir, mentir ou roubar não pode fazer parte do jogo.
http://www.niltonsantos.com.br
http://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%ADlton_Santos